
Brasília – A Caixa Econômica Federal se prepara para reduzir, ainda este ano, os juros na compra da casa própria, diz Gilberto Occhi, o presidente da instituição. Hoje, há um sistema padrão, mas a ideia é flexibilizar os critérios para beneficiar quem pode dar entrada maior, garantia e pagar em prazo mais curto. Para combater a inadimplência no Minha Casa Minha Vida, banco poderá tomar medidas para retomar os imóveis.
Com a sangria da poupança, a Caixa vai ter recursos para o crédito habitacional ? – Neste ano, estamos garantindo o mesmo volume do ano passado, de cerca de R$ 91 bilhões. A grande demanda, mesmo nesse momento de retração do setor imobiliário, continua sendo na faixa do FGTS, que tem mantido a disponibilidade dos recursos e até aportado mais na faixa que a gente pode operar, que vai de R$ 225 mil a R$ 500 mil (de valor do imóvel) e de R$ 500 mil até R$ 750 mil em algumas capitais ( Brasília, Rio, São Paulo e Belo Horizonte). Estamos administrando as demandas em relação a imóveis acima desses valores.
A Caixa estuda alternativas para o financiamento habitacional ? – Estamos fazendo avaliações com as áreas de risco, financeira e da habitação, para fazer uma adequação nas condicionantes atuais (cota de financiamento, taxa e prazo). Se eu e você procuramos um financiamento de R$ 500 mil, por exemplo, e eu tenho uma entrada para oferecer e você não, as condições são as mesmas para nós dois. A ideia é fazer com que essas condicionantes passam a ser móveis.
Pode explicar melhor ? – No caso de um mesmo imóvel de R$ 500 mil, se estou oferecendo, por exemplo, uma garantia ou pegando R$ 200 mil de financiamento e você, R$ 500 mil, então eu poderia ter uma condição melhor ou de taxa ou de prazo. Se o cliente tem o FGTS para aportar, se pede menos financiamento, se tem um recurso maior para colocar, pode ter uma taxa menor. Hoje, você tem a mesma coisa para todos: a taxa de juros, a cota e o prazo. A única diferenciação que a gente tem é se ele é cliente da Caixa ou não. Aquele que tem uma movimentação com a Caixa e que, além disso, tem o salário na banco, sempre tem uma condição melhor. Estamos pensando em oferecer a condição diferente à medida que tenha clientes ou demandas diferentes. Muita gente quer um financiamento menor e liquidar logo a dívida ou quer só a metade do (valor do) imóvel. Posso dar a ele uma taxa menor, suportada nos parâmetros de funding (financiamento), e, para isso, estamos fazendo os estudos.
Quando os estudos ficam prontos ? – Acho que, ainda este ano, a gente consegue lançar uma coisa nova no mercado imobiliário.
Isso pode mexer com o mercado ? – Qualquer movimento que a gente faça mexe com o mercado. A Caixa tem 67% do mercado imobiliário. Então, claro que a Caixa é reconhecida como um banco que oferece as melhores condições para o financiamento habitacional, e o que a gente quer é aprimorar isso e dar uma oportunidade maior para o cliente ter condições melhores e não igual para todos.
A demanda não está fraca, diante da crise na economia ? – A demanda está menor, e temos dificuldade com o funding (financiamento) da poupança. Daqui a pouco, se o mercado melhorar e a captação melhorar, você começa a ter condições de voltar a ter uma fonte de recursos barata, e a Caixa pode oferecer uma condição melhor para o cliente.
E a linha de material de construção, o Construcard, que tem alto índice de inadimplência ? – A inadimplência do Construcard é maior do que a da habitação, mas o custo também é maior. O que estamos buscando é fortalecer essa operação, que tem boa aceitação em todo o país. A ideia é criar uma garantia acessória que pode ser um seguro de crédito. Se houver um seguro como esse, isso vai significar para nós a possibilidade de você ter até uma redução na taxa de juros, compensando até essa despesa.
Há uma força-tarefa para combater fraude no Minha Casa Minha Vida ? – Temos dedicado um serviço de inteligência sobre esse assunto. Ele não está concluído. A inadimplência na Faixa 1 (população de baixa renda que recebe subsídio de até 95% no valor das casas) é superior. Temos de adotar medidas de cobrança, de tomada e de substituição daquelas famílias que estão inadimplentes.
Vão retomar o imóvel da faixa 1 ? – Isso é uma discussão que está na pauta, até porque aquelas moradias recebem cerca de 95% de subsídio do governo federal. Entendemos que aquela parcela que está sendo cobrada — o mínimo de R$ 25 e o máximo de R$ 80 — tem de ser paga para que ela possa ajudar no retorno do capital. A gente tem de ter uma política de esclarecimento de cobrança. Está na pauta o que fazer com aquelas famílias que pagavam R$ 200 do aluguel e hoje não pagam R$ 25 (da parcela). É o entendimento equivocado da ajuda social.
O que o banco está fazendo para ajudar o setor da construção afetado pela crise ? – Estamos ajustando aqui e ali e botando dinheiro para empreendimentos ficarem prontos. Estamos alongando o pagamento de seis até 12 meses, no máximo, mantendo as mesmas condições. Entendemos que a velocidade de vendas em 2014/2015 era outra. Precisamos fazer uma readequação sob pena de parar a obra.
A Caixa vai participar do programa de concessões em infraestrutura ? – Sim. Entendemos que existem recursos disponíveis e o que precisamos é destravar algumas questões, dar segurança jurídica e elaborar bons projetos de infraestrutura.
O setor privado reclama da falta de crédito para concessões.
A Caixa tem R$ 500 bilhões para emprestar. Temos crédito para infraestrutura e habitação. O grande problema é onde emprestar, como emprestar e dar a segurança jurídica às operações, constituir garantias, ter bons projetos. Estas foram as grandes dificuldades para o PAC não decolar.
De onde mais virão os recursos ? – Teremos recursos do Banco do Brasil, da Caixa, do BNDES ou dos bancos privados, recursos do FGTS e de outro fundo internacional que queira investir aqui. Já conversamos com chineses, bancos e investidores. Recurso não será problema. O problema é a necessidade da estabilidade política, e precisamos ter clareza, dar segurança jurídica e ter bons projetos.
A indicação do seu nome para a Caixa causou críticas por não ter um perfil técnico.
Sou funcionário de carreira e vou fazer 36 anos de Caixa neste ano. Sou um nome técnico, eu nunca fui candidato, nem a síndico. Nunca houve comigo e com (Henrique) Meirelles (ministro da Fazenda) nenhuma discussão nesse sentido. Fui indicado pelo partido (PP), mas fui ministro das Cidades e da Integração Nacional. Eu iria voltar para o banco de qualquer jeito.
E sobre as mudanças nas vice-presidências da Caixa ? – Essa é uma decisão do Palácio de encontrar o melhor momento. Todos aqui são funcionários da Caixa. Hoje, nós temos apenas dois vice-presidentes que não são funcionários da Caixa. Mesmo com uma eventual indefinição de nomes, quero dizer que todos aqui têm um baita compromisso com a Caixa, independentemente se serão eles ou não. Eles estão batalhando muito para entregar resultado porque são funcionários. Este é o segredo.
A gente ouve dizer que o banco era uma caixa preta. O que encontrou ? – Não existe aqui nenhum esqueleto para desmontar e tirar do armário. Precisamos de sustentabilidade e eficiência. Precisamos de um resultado maior. Esse é nosso objetivo. Temos uma inadimplência menor do que o mercado e vamos trabalhar para ela ser ainda menor no segundo o trimestre. Não precisamos de aporte do governo. Temos a possibilidade de abrir o capital da Caixa Seguridade, da Lotex (raspadinha) e da área de cartões.
Em que pé está o processo de vendas desses ativos ? – Da Lotex, foi criada a estatal Caixa Instantânea para explorar a raspadinha. Vamos vender a participação de, no mínimo, 51%. E o parceiro que vier vai ter todas as oportunidades possíveis de explorar esse produto no Brasil.
Quando os negócios deverão ser concretizados ? – Vai depender do mercado. Nós podemos falar que estamos prontos, preparados. A oportunidade pode surgir entre setembro e dezembro ou no início do próximo ano. Isso significa duas coisa importantes, um repasse de recursos ao Tesouro e um aporte de capital na Caixa.
FONTE: O GLOBO